Caio Marini
Revista Reforma Gerencial nº 05 - Jan/99
.A ampliação da governança é o ingrediente mais significativo e desafiador para a reforma do Estado no Brasil. A questão da governança coloca a necessidade de aumentar a capacidade institucional da administração pública brasileira, de forma a garantir melhor qualidade na formulação, avaliação e implementação das políticas públicas. A gestão do conhecimento é, a meu juízo, um novo e decisivo elemento a ser considerado dentro do esforço pela reforma gerencial, que deve estar voltada não somente para o ajuste fiscal, mas também para o resgate do déficit de desempenho da máquina pública, na prestação de serviços à sociedade.
Muito se tem dito e escrito sobre o assunto, principalmente no meio empresarial: competências essenciais, organizações que aprendem, capital intelectual e gestão do conhecimento. Do ponto de vista mais tradicional, administrar quer dizer gerir os ativos tangíveis da organização. Assim, uma boa administração é aquela que se ocupa da gestão do patrimônio, dos ativos materiais e financeiros e também dos recursos humanos, ainda que vistos como um dos recursos do processo produtivo. Os mecanismos de avaliação econômica de um negócio tendem a priorizar estas dimensões: um bom negócio é aquele cuja atratividade é expressa em termos da sua taxa de retorno.
Entretanto, algo de muito importante está acontecendo nesta área. Tomemos o exemplo de uma empresa que tem sido considerada como um caso de sucesso: a Microsoft. Quanto vale esta organização? O que determina o valor de suas ações nas bolsas? Será que é o patrimônio físico, ou seus ativos financeiros? Na verdade, o valor desta empresa, ou de qualquer outra, é determinado pelo estoque de capital intelectual acumulado e pela capacidade de gerenciar este conhecimento. Este é e será o fator decisivo para o êxito de todo empreendimento, ou seja, a capacidade que a organização tenha de gerir o conhecimento necessário para a realização do seu negócio. E este conhecimento pode estar na própria organização, ou fora dela e, mais: pode ser criado ou desenvolvido. Peter Drucker, referindo-se aos tempos atuais, argumenta que "os gerentes estão tendo que aprender a envolver as mentes de seus trabalhadores, em vez de simplesmente controlar suas mãos".
Diversas são as abordagens sobre a questão do conhecimento na literatura especializada. Peter Senge, no clássico A Quinta Disciplina, considera que a verdadeira vantagem competitiva é a capacidade de aprender, enquanto que Hamel e Prahalad, em Competindo para o Futuro, destacam o tipo de conhecimento a ser cultivado, remetendo ao conceito das "competências essenciais": as habilidades e tradições que geram -ou poderiam vir a gerar- vantagem competitiva. Na abordagem de Nonaka e Takeuchi, o processo de criação do conhecimento organizacional &