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O fim do mundo que conhecemos

Luiz Carlos Bresser-Pereira

Nota no facebook, 12.7.2018

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Esse é o título do artigo de Clóvis Rossi hoje na Folha ao discutir as políticas agressivas e irresponsáveis de Donald Trump na presidência dos Estados Unidos. Ele tem razão. Mas que “mundo” é ou foi esse?

 O mundo que ele e eu (temos idades semelhantes) conhecemos foi o mundo americano do após-guerra. Foi o mundo da luta contra o nazismo, da Guerra Fria, da Democracia Liberal Americana, do Império Americano, e, desde 1980, do Neoliberalismo. Um mundo que era belo quando lutava contra Hitler e o Japão ou contra o estalinismo; que mais parecia do que realmente era admirável com sua democracia liberal marcada pela desigualdade; que passou a espalhar pelo mundo um individualismo radical e antissocial desde que foi governado por Ronald Reagan; que se revelava imperialista quando fazia guerras no Vietnã, na Nicarágua, no Iraque, na Síria em nome das elites rentistas e financistas do Ocidente; e que agora se volta contra si mesmo quando destrói a ordem internacional que liderou, enquanto, internamente protege os muito ricos e engana os pobres com o pior populismo.

Eu que, através dos anos, me tornei um crítico severo desse mundo americano, olho para tudo isso perplexo. O meu mundo – aquele que admiro e gostaria de ter também para os brasileiros – é o mundo da social-democracia desenvolvimentista dos 30 Anos Dourados do Capitalismo – a sociedade construída pelos europeus. Esteve longe de ser o mundo ideal, mas foi o melhor que os homens conseguiram construir ao combinarem socialismo e capitalismo, Estado e mercado. Foi um mundo de centro-esquerda, que ainda existe no Oeste e no Norte da Europa, mas já bastante prejudicado pela coalizão de classes financeiro-rentista e o neoliberalismo. Minha esperança para o Brasil era a de que seguisse os passos da Europa, e para a Europa, que ela continuasse a avançar na construção de uma sociedade mais segura, mais próspera, mais justa, e que defenda melhor o meio-ambiente. Mas o que estamos vendo é o crescimento de um populismo de direita, que não está apenas nos Estados Unidos, mas igualmente na Hungria, na Polônia, na Áustria, e, agora, na nossa Itália.

Teremos, um dia, capacidade de resistir a esses dois males – o neoliberalismo de direita e ao populismo de direita? Não estou seguro. Para isto não basta a indignação da esquerda e sua vontade de diminuir as desigualdades. É preciso também evitar o populismo de esquerda. É preciso construir uma alternativa que combine desenvolvimento, justiça e sustentabilidade ambiental – uma alternativa que não está ainda disponível, mas que pode e deve ser construída.