OTHER TYPES OF WORKS

  • 08-1984-capa-desenvolvimento-e-crise-no-brasil-1930-1983
  • 05-2010-capa-globalixacion-y-competencia
  • 09-1993-capa-reformas-economicas-em-democracias-novas
  • 03-2018-capa-em-busca-de-desenvolvimento-perdido
  • 05-2009-capa-mondialisation-et-competition
  • 11-1992-capa-a-crise-do-estado
  • 09-1993-capa-economic-reforms-in-new-democracies
  • 10-1998-capa-reforma-do-estado-para-a-cidadania
  • 2014-capa-developmental-macroeconomics-new-developmentalism
  • 13-1988-capa-lucro-acumulacao-e-crise-2a-edicao
  • 12-1982-capa-a-sociedade-estatal-e-a-tecnoburocracia
  • 05-2009-capa-globalizacao-e-competicao
  • 01-2021
  • 05-2010-capa-globalization-and-competition
  • 07-2004-capa-democracy-and-public-management-reform
  • 02-2021-capa-a-construcao-politica-e-economica-do-brasil
  • 2006-capa-as-revolucoes-utopicas-dos-anos-60
  • 10-1999-capa-reforma-del-estado-para-la-ciudadania
  • 17-2004-capa-em-busca-do-novo
  • 01-2021-capa-new-developmentalism
  • 06-2009-capa-construindo-o-estado-republicano
  • 16-2015-capa-a-teoria-economica-na-obra-de-bresser-pereira-3
  • 04-2016-capa-macroeconomia-desenvolvimentista
  • 15-1968-capa-desenvolvimento-e-crise-no-brasil-1930-1967

A teoria se confirma, mas sombriamente

Luiz Carlos Bresser-Pereira

Nota no Facebook, 24.2.2017.

.


Um cientista se alegra quando desenvolve uma teoria que implica uma predição e esta se confirma na prática. Em 2008 eu propus a tendência fundamental da macroeconomia novo-desenvolvimentista que venho desenvolvendo desde 2001 – a tendência à sobreapreciação cíclica e crônica da taxa de câmbio. Isto significa que a taxa de câmbio se deprecia fortemente nas crises, mas logo volta a se apreciar, o país passa a ter deficits em conta-corrente, e alguns anos depois, devido ao contínuo aumento das dívidas das empresas e do país, uma nova crise financeira se desencadeia, e a taxa de câmbio novamente se deprecia.

Em 2008 a taxa de câmbio, que se depreciara fortemente na crise financeira de 2002, já voltara a se apreciar e desde o ano anterior estava sobreapreciada ao mesmo tempo em que o deficit em conta corrente do país já voltara a ser grande, dada a forte correlação entre este e a taxa de câmbio. Nos anos seguintes a tendência se confirmou, e a taxa real de câmbio, a preços do final de 2015, flutuou em torno de R$ 2,80, quando a taxa de câmbio, que torna competitivas as boas empresas industriais do país, era de R$ 3,80 por dólar. Assim, a previsão se confirmou, como também se confirmou sua consequência: as empresas, tornadas assim sem competitividade, deixaram de investir, houve uma nova e brutal onda de desindustrialização, as empresas se endividaram, e, no segundo semestre de 2014, o país entrou em crise financeira, e a taxa de câmbio voltou a se depreciar. Ela chegou a R$ 4,40, mas logo voltou se a apreciar, e hoje, a preços de hoje, quando a taxa de câmbio competitiva ou de equilíbrio industrial é de cerca de R$ 4,00 por dólar, ela caiu (apreciou-se) para R$ 3,00 por dólar.

Novamente a teoria se confirmou na prática. Mas não estou alegre. O que se confirmou foi uma previsão sombria. Quando a taxa de câmbio não é apenas volátil, mas tende a permanecer apreciada por vários anos – algo que apenas a macroeconômico novo-desenvolvimentista afirma – o país fica condenado a exportar apenas commodities e permanecer semiestagnado, como está desde 1990, crescendo em média, por pessoa, 1% ao ano. Hoje o Valor publica ampla reportagem onde as empresas industriais afirmam que essa taxa de câmbio inviabiliza a indústria – é mais que isto, inviabiliza o Brasil.

Por que a taxa de câmbio tende a se sobreapreciar nos países em desenvolvimento? No plano econômico, porque muitos deles sofrem a doença holandesa, porque suas taxas de juros tendem a ser elevadas, atraindo capitais, porque seus governos acreditam equivocadamente que o pode crescer com “poupança externa”, ou seja, com deficit em conta corrente financiado por investimentos diretos e empréstimos, e finalmente, porque usam o câmbio como âncora para controlar a inflação; no plano cultural, porque os brasileiros revelam uma alta preferência pelo consumo imediato, que é incompatível com uma taxa de câmbio competitiva ou de equilíbrio industrial, e, segundo, porque deixaram de ser nacionalistas, e passaram a acreditar nas recomendações e pressões dos países ricos.

Keynes afirmou que a economia é uma ciência triste, sombria. Tinha razão. Mas ele mostrou que através de uma boa política macroeconômica – da política fiscal e da política monetária – seria possível superar suas previsões sombrias. Os economistas novo-desenvolvimentistas concordam, mas acrescentam: é preciso também uma política cambial – algo que o Brasil não tem desde 1990, quando se submeteu ao capitalismo financeiro-rentista do Oeste, suas elites se tornaram liberal-dependentes, e a semiestagnação.