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É tempo de olhar além do capitalismo

Entrevista de Walden Bello

Terra Viva, 30.1.09

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No contexto da atual crise global, qual é a tarefa mais relevante do FSM?

 

Nós estamos em um momento muito crítico da história, no qual o capitalismo neoliberal desandou e eu penso que o FSM é um local onde discussões muito sérias acontecem, nos termos tanto da antecipação de uma provável resposta ao capitalismo global quanto da procura por alternativas para a crise atual. Nós precisamos, realmente, colocar a tarefa do FSM no contexto da crise global generalizada.

 

Então Belém é um estágio crucial para o futuro do FSM?

 

Sim, definitivamente. Ele é um estágio extremamente crítico para a sociedade civil global neste ponto. Precisamos ir além das soluções estabilizadoras que se está começando a ver na Europa e nos Estados Unidos. As elites capitalistas estão indo além do neoliberalismo em muitos momentos, por isso eu penso no que é realmente importante em Belém para se chegar a um consenso sobre a crise do capitalismo e nós devemos ter discussões muito sérias sobre como ir além das soluções (desse tipo). Eu penso que precisamos fornecer alternativas que estejam fora do sistema, como uma expansão da social-democracia, por exemplo.

 

Como o FSM pode conseguir tal resposta e como seria possível implementá-la?

O que se precisa buscar seriamente, em Belém, é identificar não apenas a crise do neoliberalismo, mas a crise do capitalismo. Nós estamos falando das raízes da crise e de como elas são dinâmicas como o modo de produção capitalista. As alternativas para isso são algo que precisamos seriamente trazer à tona. Nós precisamos dividir nossas respostas nos termos dos valores universais, como a questão da justiça, a questão da igualdade, criando uma alternativa que realmente se preocupe com o bem-estar das pessoas. Nós precisamos encontrar uma conexão estável do nosso movimento, que atravesse diferentes países, interagindo com respeito às alternativas que estão sendo colocadas.

 

Nos seus escritos, você parece evitar termos clássicos como socialismo, revolução para descrever o tipo de sociedade que o Fórum deveria estar procurando.

 

Nós estamos procurando democratizar as propriedades dos meios de produção. Não importa se você chama isso de socialismo ou democracia da população, ou socialismo democrático, o que realmente importa é que estamos falando sobre o controle democrático da economia. Nós precisamos olhar para uma possível articulação de economias variadas, com diferentes sistemas de propriedade na economia, o que provavelmente vai incluir empresas do terceiro setor, cooperativas, empresas privadas e o Estado. Essa é uma dimensão. A outra dimensão diz respeito a uma reestruturação da economia interna, que priorize a economia doméstica ao invés dos mercados de exportação, um desenvolvimento econômico nacional, além de uma alternativa ecológica e sustentável. Não quero usar o termo socialismo porque ele possui certa conotação sobre o que o socialismo representa, e traz a imagem da Europa Oriental.

 

Existe algo semelhante a isso acontecendo em algum lugar do mundo nesse momento?

 

Acho que o que estamos vendo são esforços nessa direção em muitos países, certamente na Bolívia, Equador e Venezuela. Quer dizer, cada processo possui suas próprias particularidades, suas próprias dinâmicas.

 

Nesse processo, os países em desenvolvimento tomam a liderança e o Norte fica atrás?

 

Eu não diria isso. Penso que as pessoas ainda estão chocadas com a crise, especialmente Estados Unidos, Europa e Japão. A crise está evoluindo muito rápido. Eu não desprezaria uma eclosão de movimentos populares nessas áreas do mundo.

 

Existe também um risco de reações da direita radical como as ocorridas na França e na Itália?

 

Isso é definitivamente uma possibilidade. O que veremos são três possibilidades: uma é uma radicalização para a esquerda, outra, uma radicalização para a direita - um grande risco no Norte, em locais como Itália e França -, e a terceira é a paralisia. Por isso, não há nenhuma garantia que alternativas progressistas crescerão. Progressistas, com seus conhecimentos sobre a sociedade e sua estratégia, deverão lutar pela hegemonia.

 

Você escreveu recentemente que o balanço global do poder está mudando para o Sul.

 

O que eu quis dizer é que vimos na última década o enfraquecimento do centro tradicional da economia. Vimos que os Estados Unidos entraram no consumismo, o estágio final do capitalismo, financiado pela China. Os créditos chineses mantiveram a economia americana funcionando. Nos últimos 10 a 15 anos, países como o Brasil, China e Índia se tornaram relativamente fortes atores da economia com a troca de empregos e capital e eles acabaram virando credores do Norte. Isso é o que eu quero dizer em termos de balanço de poder. Não estou dizendo que eles se tornaram o novo centro ou hegemônico. O poder hegemônico continua a ser o Norte, especialmente os Estados Unidos.

 

Isso é possível para o tipo de luta que você clama?

Aí depende. Apesar de tudo, os países menos hegemônicos do Norte ficaram fortes e quanto mais poder é destinado ao sistema global, eu acredito que é um desenvolvimento positivo. Por outro lado, você precisa perceber que esses países (do Sul), essas economias são controladas, em todos os casos, por uma elite capitalista e, em muitos casos, como o da China, você tem isso em menor conta do que, digamos, a elite nos Estados Unidos. Portanto, de um lado temos uma coisa positiva, que é uma difusão do poder, do outro também estamos falando sobre esses novos atores da economia, que estão fazendo uma grande diferença, e estão sob a dominação de uma elite desenvolvimentista. Acho que o desafio no Norte é que os movimentos progressistas imponham suas agendas, as quais incluem mais participação e mais controle democrático dos meios de produção e das tomadas de decisões econômicas. A agenda para todos os movimentos, seja no Norte ou no Sul, é a mesma.

 

Nesse contexto, como você vê a agressão de Israel na Palestina?

 

O FSM precisa tomar uma posição dura e condenar Israel e apoiar os direitos dos palestinos de terem seu próprio Estado, além de apoiar o direito de retorno dos palestinos ao que hoje é Israel. Para realmente preservar seu espírito e continuar a proporcionar uma forte energia de suporte aos movimentos civis, a questão da Palestina, Afeganistão, a questão do capitalismo, são assuntos sobre os quais o FSM precisa se posicionar.

 

Tal direção demanda uma estrutura permanente.

 

Devemos encontrar maneiras de realmente fazer do Conselho Internacional (CI) um corpo com mais responsabilidades. O problema hoje com o CI é que acaba sendo um grupo de discussão mais que um organismo com poderes efetivos para levar as lutas adiante.