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Carta a Roberto Giannetti da Fonseca

Luiz Carlos Bresser-Pereira

Carta enviada a Roberto Giannetti da Fonseca em 11 de junho de 2006.

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Caro Roberto


Li com atraso mas com grande interesse seu belo livro, Memórias de um Trader (São Paulo: Thomson, 2002). A história do comércio exterior do Brasil confunde-se em grande parte com a sua própria vida. Nos anos 70, muito jovem, quando o país ainda estava preso ao modelo de substituição de importações, você já percebeu que o futuro do Brasil estava na exportação e na competitividade internacional, e lançou-se forte na empreitada, misturando espírito republicano e espírito empresarial com a energia e a competência que o caracterizam.


Naturalmente, li com especial atenção sua participação decisiva na formulação e negociação da proposta do Brasil sobre a dívida externa. Como conta em seu livro, foi você quem trouxe para mim a idéia da securitização da dívida externa, que depois seria a base da proposta do Brasil, formulada em abril de 1987, e, apesar do &lsquonon starter’ do Secretário do Tesouro James Baker, adotada pelo mesmo governo americano 18 meses mais tarde, através do Plano Brady. Eu estava procurando ativamente uma saída para a moratória brasileira ou, o que dá na mesma, para o equacionamento da dívida externa do país que fosse compatível com a retomada do crescimento, e sua idéia em uma breve entrevista abriu todo um espaço para que pudéssemos, com a ajuda do Fernão Bracher e de dois grandes bancos internacionais que agiram como consultores, o Warburg e o First Boston, chegar a uma proposta que fizesse sentaido para nós e para nossos credores.


Seu relato está excelente, exceto em relação ao episódio do &lsquonon starter’, sobre o qual você foi informado por relatos de terceiros. Baker não me recebeu fazendo aquela afirmação grosseira, nem me recebeu na frente dos assessores meus e dele. Recebeu-me individualmente, como costumava fazer com os ministros de finanças de outros países, ouviu minha proposta, afirmou que não concordava que uma parte da securitização fosse compulsória (foi aí que chegou mais perto do &lsquonon starter’), mas aceitou meus argumentos a favor da securitização voluntária (que era o mais importante para mim) e com a relativa separação entre o FMI e os bancos comerciais nas negociações.


Em seguida, fomos para a reunião em que os dois ministros e seus assessores sentavam-se frente a frente em uma grande mesa. Nessa reunião, Mulford e Dallara não concordaram com a solução