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Qual oposição?

Luiz Carlos Bresser-Pereira

Nota no Facebook, 26.7.2017

In this note, the author summarizes his critiques to the Brazilian government, which was born from a political coup, and the economic elites that support it. But he is also critical of a radical discourse on the part of the left, which is incompatible with the nation and the democracy.


Estou preocupado com a radicalização do discurso da esquerda brasileira desde o impeachment.

Sim, estamos na oposição ao governo brasileiro desde que ele foi instalado através de um golpe parlamentar.

Sim, somos críticos das elites econômicas e da grande mídia brasileira que apoiaram esse golpe tramado por uma quadrilha de políticos oportunistas.

Sim, criticamos as reformas neoliberais que estão sendo adotadas pelo parlamento, as quais colocam todo o peso do necessário ajuste econômico que o país precisa nos trabalhadores e nos pobres.

Sim, as elites econômicas brasileiras conduzem uma luta de classes de cima para baixo desde que adotaram o discurso neoliberal produzido por seus economistas e demais intelectuais orgânicos.

Sim, em 2014 a nova direita brasileira inaugurou um discurso de ódio.

Sim, é importante que nós partilhemos essas ideias e essa indignação enquanto cidadãos democráticos, desenvolvimentistas e de centro-esquerda. Para nós a democracia é um bem inegociável; o desenvolvimento, um objetivo que só um governo desenvolvimentista e competente será capaz de assegurar; e a diminuição das desigualdades, o grande problema brasileiro que depende não apenas de uma política deliberada de diminuição da desigualdade, mas também do desenvolvimento econômico.

Mas vejo com preocupação que o ódio tomou  conta também  da esquerda desde o impeachment. Ora, esse discurso é incompatível com a democracia e a construção da nação. Nele, não é apenas o governo Temer, mas todas as elites econômicas e a grande mídia que aparecem como um bando de criminosos voltados para a exploração dos trabalhadores. Isto não é razoável. Nas democracias existem sempre uma direita e uma esquerda, desenvolvimentistas e dependentistas, mas é essencial que se respeitem e dialoguem.

É também preocupante a forma pela qual o Judiciário vem sendo tratado. Sim, o juiz Sérgio Moro e sua força tarefa de procuradores da República têm agido de forma parcial contra o ex-presidente Lula e o PT, e vem adotando práticas, como as conduções coercitivas de pessoas para depor, as prisões provisórias sem motivos apoiados na lei, e o uso de delações e seu vazamento, para desmoralizar políticos e empresários. Mas isto não justifica ver todo o Judiciário dessa maneira.

Sim, devemos estar na oposição a tudo isso, mas essa oposição deve ser democrática. A democracia não foi um projeto das elites, mas do povo brasileiro; o apoio das elites econômicas à transição democrática (1964-1984) só ocorreu no final de um longo período de lutas populares. Conquistamos a democracia em 1985 e uma Constituição democrática em 1988. Em seguida, iniciamos um processo de diminuição das desigualdades, que ganhou força com a eleição de um presidente de esquerda em 2002.

A direita respeitou a democracia até 2016, quando, em face à crise profunda do governo Dilma Rousseff, a traiu. Não implantou, então, um novo regime autoritário, mas se sentiu com forças para impor ao país um liberalismo econômico que, além de injusto e antidemocrático, é ineficaz em levar o Brasil a voltar a se desenvolver. A esquerda pode e deve protestar contra isso, mas não deve cair no mesmo erro. Nosso discurso deve ser indignado, mas não deve ser radical. Ao não deixar espaço para o acordo, um discurso radical leva o país a um impasse e arrisca a democracia.