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Suborno, engodo e juros

Luiz Carlos Bresser-Pereira

Nota no Facebook, 5.3.17

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As delações da Odebrecht estão deixando duas coisas muito claras: 

• Grandes empresas montaram um sistema monumental de suborno de políticos no qual:

1. Os políticos deixaram-se docemente serem subornados;

2. O partido político mais envolvido no sistema de suborno foi o PMDB;

3. O segundo lugar coube aos líderes do PSDB – todos envolvidos;

4. O terceiro lugar, ao PT, que através do tesoureiro, João Vaccari, arrecadou dinheiro diretamente para financiar o dia a dia do partido.

5. Lula não foi o chefe do sistema; recebeu, apenas, benefícios marginais.

• O impeachment, além de violentar a democracia brasileira, foi um grande engodo, porque

1. Ao contrário do que esperavam as massas que foram protestar nas ruas, não substituiu corruptos por honestos, mas políticos pouco envolvidos no sistema de suborno por políticos do PMDB e do PSDB que comandavam esse suborno;

2. O objetivo do impeachment foi tirar do governo uma presidente incompetente, que perdera a confiança das elites financeiro-rentistas;

3. Foi colocar no seu lugar um presidente que continue pagando juros altíssimos a essas elites financeiro-rentistas;

4. Foi garantir que elas continuem a receber juros do Estado que, em termos reais,

a. o estão hoje, no quadro da recessão, acima de 8% do PIB,

b. o geralmente correspondem a 6% do PIB, mas

c. o considerando-se que deveríamos pagar no máximo o dobro do que pagam os países ricos, não deveriam ser mais do que 2% do PIB;

5. O objetivo do impeachment foi, portanto, garantir a continuidade de despesas infinitamente maiores do que as despesas que a reforma da previdência.

• Sim, o Brasil precisa da reforma da previdência, mas precisa muito mais de uma reforma monetária que:

1. acabe com a indexação dos títulos públicos;

2. reforme o sistema Selic separando a rentabilidade dos títulos no curto prazo da rentabilidade no longo prazo, o que criará um mercado para esses títulos, e levará os rentistas a perder quando o Banco Central eleva os juros (algo que acontece em todos os países exceto o Brasil);

3. facilitando, assim, a necessária decisão do Banco Central de baixar a taxa de juros básica nominal para 6% ao ano, que corresponderá, considerando uma inflação de 4%, a uma taxa de juros básica de 2% - mais do o dobro da taxa média dos países ricos.