Luiz Carlos Bresser-Pereira
Nota no Facebook e no Twitter, 22.12.2020
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Um dia desses eu me perguntei qual foi, entre os meus muitos ex-alunos, aquele que se transformou em um político de primeira grandeza, e o nome de Tasso Jereissati surgiu naturalmente para mim.
Ele foi meu aluno na FGV nos longínquos anos 1970; alguns anos depois, me procurou quando eu dirigia o Pão de Açúcar porque queria instalar em Fortaleza o primeiro supermercado da cidade e nos propunha uma sociedade.
Tornamo-nos sócios e, mais do que isto, amigos, os dois mais Abílio Diniz. Tasso tornou-se, então, presidente do Centro das Indústrias do Ceará, e tinha como referência os grandes líderes industriais de São Paulo.
Refiro-me a empresários industriais como Cláudio Bardella, Antônio Ermírio de Moraes e Luiz Eulálio Vidigal, que ele admirava e convidava para fazer palestras em Fortaleza.
Mas Tasso fora filho de um senador trabalhista, tinha a política no sangue, e quando ocorreu a transição democrática ele naturalmente se associou aos líderes do PMDB que depois fundariam o PSDB, entre os quais eu me situava.
Enfrentou, então, a oligarquia política que dominava o Ceará, foi eleito governador, rodeou-se de uma equipe de excelentes assessores e realizou uma gestão incrivelmente competente.
Demitiu funcionários e jornalistas que não trabalhavam, reduziu em 40 por cento as despesas com o funcionalismo, e desenvolveu um plano de governo com uma orientação empresarial.
Os resultados foram impressionantes. Em breve o Ceará passou a se desenvolver mais rapidamente do que os dois estados mais importantes do Nordeste, Pernambuco e a Bahia.
Um resultado que teve continuidade porque de sua equipe também faziam parte homens públicos como Ciro Gomes, que também foi eleito governador e também foi um grande governador. Os dois fizeram escola.
Tasso é um político de centro-direita que permaneceu no PSDB e passou naturalmente a liderá-lo sem, para isso, ter sido obrigado a dar a guinada para a direita que Fernando Henrique e José Serra deram.
Tasso e eu participamos do governo Fernando Henrique, mas ao sair do governo em 1999, eu me afastei da política e me voltei para a vida acadêmica e de intelectual público. E também retornei a meu desenvolvimentismo social-democrático.
Dessa maneira, perdemos contato. Tasso continuou sua carreira política; é novamente senador, e um grande senador. No momento, está envolvido em um projeto de lei que dê continuidade ao auxílio emergencial do Covid-19.
Seu projeto, essencial neste momento, permite a transição do auxílio emergencial para uma Bolsa Família ampliada. E estabelece cortes de pobreza (R$ 250 per capita) e extrema pobreza (R$ 120 per capita) visando, assim, acabar com a pobreza extrema.
Tasso Jereissati é a prova viva do quanto é importante não avaliarmos os políticos em termos apenas ideológicos. Homens com seu espírito republicano e sua competência política são preciosos para uma nação.
Seriam ainda mais preciosos se soubessem o que é a teoria novo-desenvolvimentista, por que ela explica a quase-estagnação do Brasil há 40 anos, 30 dos quais sob um regime de política econômica liberal.
Nos últimos 40 anos, enquanto o PIB per capita da China aumentou 23 vezes e o dos países ricos, 1,9 vezes, o PIB per capita do Brasil aumentou apenas 1,3 vezes. Um grande fracasso, uma tragédia nacional, sob a égide do neoliberalismo e da subordinação aos Estados Unidos.
Tasso Jereissati, como a grande maioria dos políticos brasileiros, está sendo permanentemente bombardeado por essa ortodoxia liberal incompetente e antinacional que condena o Brasil à quase-estagnação e ao atraso.
Mas há nele a grandeza dos homens públicos republicanos. Uma grandeza que o Brasil não soube aproveitar, como também não soube aproveitar a grandeza de outro grande cearense, Ciro Gomes.
Um está na centro-direita, o outro, na centro-esquerda. Eu estou politicamente perto de Ciro, não de Tasso, mas continuo a apostar nos dois. O Brasil precisa dramaticamente de homens públicos como eles.