Entrevista a Mariana Barbosa
O Estado de S.Paulo, 28.12.2002
Ex-ministro tucano diz que o PT foi eleito 'para mudar a política equivocada que está aí' .As críticas do futuro ministro da Fazenda, Antônio Palocci, à herança econômica da era Fernando Henrique Cardoso foram bem vistas pelo ex-ministro e tucano histórico Luiz Carlos Bresser Pereira. "É um sinal de compromisso com a mudança. O PT foi eleito para alterar a política econômica equivocada que aí está", afirmou Bresser.O economista acredita que a postura que vinha sendo adotada por Palocci - com elogios à estabilidade alcançada pelo atual governo e reassegurando que irá cumprir contratos - é parte de uma estratégia para acalmar o mercado financeiro. "Isso é necessário porque a crise internacional é séria e os bancos não renovaram ainda as linhas de crédito. Se o PT dissesse que iria mudar drasticamente, poderia amedrontar o mercado, quando neste momento é fundamental acalmá-lo."
Crítico da política macroeconômica atual, Bresser, que ocupou dois ministérios durante o governo Fernando Henrique, acredita que o PT só conseguirá provar que de fato irá promover mudanças na política econômica quando conseguir reduzir drasticamente os juros, para menos da metade dos níveis atuais.
"Em seis meses será possível baixar a taxa de juro real, que hoje é de cerca de 10%, para 3% ou 4%, desde que o crédito externo volte e a economia continue desacelerada", defende. Ele avalia que só assim será possível inverter a chamada "equação macro-econômica" implementada pelo Banco Central nas gestões (Gustavo) Franco-(Armínio) Fraga, de taxa de juro alta com taxa de câmbio baixa. "Temos que ter juros baixos e câmbio relativamente alto", diz Bresser.
Na sua avaliação, o câmbio ideal seria "por volta de R$ 3,20", o que garantiria a competitividade das exportações. Bresser criticou, entretanto, declarações de Palocci de que, para baixar juros, será preciso antes reduzir a relação entre a dívida/PIB. "Essa tarefa é inalcançável pois ainda que você aumente o superávit primário, o déficit nunca se reduzirá por causa dos juros."