Luiz Carlos Bresser-Pereira
Diário de Pernambuco, 12/07/1999
Tema: Viagem ao Nordeste
Entrevista ao Diário de Pernambuco
A frase, dita pelo ministro da Ciência e Tecnologia, Luiz Carlos Bresser Pereira, no último dia 28 de maio, soou como um baque para os ouvidos apurados da comunidade científica do Nordeste e demais habitantes da região. O que se seguiu - como não poderia deixar de ser - foi uma série de desabafos de cientistas que, munidos de dados estatísticos, provaram que, entre outros qualidades, temos uma das melhores faculdades do país, a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), físicos de vanguarda e uma área de informática que é consideradacomo referência nacional.
Na última sexta-feira, o ministro aproveitou um seminário que havia marcado no Recife - antes da mal-sucedida declaração - para se desculpar oficialmente à comunidade científica pela forma descuidada como se referiu aos nordestinos e para explicar adequadamente o que quis dizer para o repórter do jornal da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), o Ciência Hoje, com a polêmica frase.
Na entrevista a seguir, o ministro Bresser Pereira fala sobre a verba destinada à região, sobre a importância de investimentos em ciência e tecnologia no Nordeste e, como não podia deixar de ser, sobre preconceito contra a comunidade científica local.
DIARIO DE PERNAMBUCO - O senhor diz, de acordo com publicação no jornal da Sociedade Brasiileira para o Progresso da Ciência (SBPC), o Ciência Hoje, que pesquisa nos estados mais pobres tende a ser de menor qualidade, investir em ciência no Nordeste é colocar o carro na frente dos bois e é jogar dinheiro fora. O senhor nega ter afirmado isso?
Luiz Carlos Bresser Pereira? - Ao meu ver, houve um grande mal-entendido. Houve culpa principal do jornal, mas o erro também cabe a mim. Posso pedir desculpas pela parte que cabe a mim. O jornal simplesmente trocou a frase colocar o carro na frente dos bois por colocar capim na frente dos bois. A declaração, no contexto, foi insultuosa para os nordestinos. Também não devia ter usado essa expressão. Foi descuido falar que áreas mais pobres têm pesquisa de menor qualidade. Quis dizer que financiar gente incompetente e despreparada é que era desperdício. Absolutamente não penso que investir aqui é jogar dinheiro fora. O jornalista perguntou por que o Nordeste tinha proporcionalmente menos verba para tecnologia que o resto do Brasil. Disse que a região tinha menos verba em relação à população porque em relação ao PIB e ao número de pesquisadores a região está dentro da média nacional. Há uma desproporção porque a região representa 30% da população brasileira e, ao mesmo tempo, representa 12% dos gastos do ministério com os pesquisadores. Expliquei que essa desproporção acontece porque havia um princípio no CNPq, que é adotado em todos os países, de que as verbas são destinadas aos cientistas pelos próprios cientistas. Eles formam comissões de pares e essas recebem para cada área científica uma certa verba. As comissões examinam os projetos dos colegas e atribuem aos melhores o dinheiro.
DP - A visita do senhor ao Estado de Pernambuco foi uma forma de resolver a crise que surgiu após declaração no jornal da SBPC?
Bresser - É e não é. Digo que não é, porque essa viagem ao Recife foi marcada a partir de uma conversa com o vice-presidente, Marco Maciel, há um mês e meio, antes da polêmica. Fui tomar café da manhã com Maciel para conversarmos sobre ciência e tecnologia em geral. Na ocasião, disse que achava importante verificar que Pernambuco - que sei que tem os melhores cientistas do Nordeste e alguns dos melhores do Brasil - viveu nos últimos 50 anos um desenvolvimento substancialmente menor que o da Bahia e do Ceará. Discutimos para ver o que era possível ser feito para mudar essa situação. Então, Maciel sugeriu que marcássemos um seminário no Recife. Depois disso apareceu a famosa entrevista.
DP - O senhor disse que também veio ao Recife para resolver a crise criada após suas declar