OTHER TYPES OF WORKS

  • 16-2015-capa-a-teoria-economica-na-obra-de-bresser-pereira-3
  • 2006-capa-as-revolucoes-utopicas-dos-anos-60
  • 04-2016-capa-macroeconomia-desenvolvimentista
  • 01-2021-capa-new-developmentalism
  • 10-1998-capa-reforma-do-estado-para-a-cidadania
  • 2014-capa-developmental-macroeconomics-new-developmentalism
  • 17-2004-capa-em-busca-do-novo
  • 05-2010-capa-globalization-and-competition
  • 02-2021-capa-a-construcao-politica-e-economica-do-brasil
  • 01-2021
  • 06-2009-capa-construindo-o-estado-republicano
  • 11-1992-capa-a-crise-do-estado
  • 03-2018-capa-em-busca-de-desenvolvimento-perdido
  • 13-1988-capa-lucro-acumulacao-e-crise-2a-edicao
  • 12-1982-capa-a-sociedade-estatal-e-a-tecnoburocracia
  • 09-1993-capa-reformas-economicas-em-democracias-novas
  • 05-2009-capa-mondialisation-et-competition
  • 08-1984-capa-desenvolvimento-e-crise-no-brasil-1930-1983
  • 07-2004-capa-democracy-and-public-management-reform
  • 15-1968-capa-desenvolvimento-e-crise-no-brasil-1930-1967
  • 05-2010-capa-globalixacion-y-competencia
  • 09-1993-capa-economic-reforms-in-new-democracies
  • 10-1999-capa-reforma-del-estado-para-la-ciudadania
  • 05-2009-capa-globalizacao-e-competicao

Coragem, firmeza, espírito público

Luiz Carlos Bresser-Pereira

Nota no Facebook, 3.4.2020


O mundo e cada país enfrentam hoje uma crise imensa. Uma crise que atinge todo o globo terrestre, mas que terá que ser enfrentada em cada país. Em cada estado-nação. Não poderá ser resolvida pelo mundo, porque mundo não tem um estado. 

São as nações que têm cada uma o seu estado - tem um sistema constitucional-legal e a organização formada por políticos e servidores com poder para executar as leis e demais políticas públicas. Que em um momento de alta gravidade como o que estamos vivendo, são fundamentais. 

No Brasil estamos finalmente caindo na realidade. O PIB não crescerá zero nem será negativo em 1%. Tomando-se o cálculo da The Economist Intelligence Unit, a recessão deverá ser de 5,5% neste ano. Número pesado de significados. Significa desemprego, significa fome dos mais pobres, significa quebra de empresas, significa empobrecimento geral, significa ansiedade generalizada, sofrimento. 

O estado é a instituição de que dispomos para enfrentar essa dupla crise, sanitária e econômica. Um estado cujo governo está hoje entregue a um homem sem condições mínimas para enfrentar o problema. Mas esse estado não está paralisado. 

Os governadores, os deputados, os senadores, os ministros do Supremo, os ministros do governo, os juízes, os servidores estão todos trabalhando, fazendo o que podem.

Chamo, porém, atenção para o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Entre os economistas do governo lutando contra o coronavírus ele é a figura mais extraordinária. Foi ele que endossou a estimativa que a recessão será de 5,5% neste ano. 

E observou como é importante nesse momento que o Brasil tenha as reservas que tem.

Mas, para o estado e seu governo poderem agir, ele terá que entrar em elevado deficit público - fato que evidentemente travou a ação do Ministério da Economia em um primeiro momento. Mas vendo a gravidade da dupla crise, o ministro Paulo Guedes corrigiu o rumo e afirmou que gastaria o que fosse preciso. Ótimo. 

Nelson Barbosa, escrevendo hoje um excelente artigo na Folha, comemorou o fato de que muitos economistas estão concordando que é preciso incorrer em um deficit maior. Ótimo novamente. 

Mas será que o governo aumentará com tranquilidade a dívida pública o tanto quanto é necessário? Foi diante dessa pergunta que, no dia 26 último, propus que o governo aprovasse uma lei para iniciar um processo de "quantitative easing", de emissão de moeda para a compra pelo Banco Central de títulos públicos, para financiar a despesas excepcionais que estão sendo necessárias para enfrentar a crise sanitária e a crise econômica. Fiz esta proposta sem saber que o Banco Central estava patrocinando uma emenda constitucional (não basta lei, ao contrário do que pensei originalmente) nessa mesma direção. 

Mas a PEC está sendo desidratada no Congresso enquanto já surgem economistas advertindo contra os perigos inflacionários da medida. São economistas que ainda não aprenderam que moeda não causa inflação - o máximo que ela faz é sancionar a inflação que está em curso garantindo o nível de liquidez da economia. Foi isto que os economistas brasileiros mostraram quando, na primeira metade dos anos 1980, desenvolveram a teoria da inflação inercial. 

Para enfrentar esta dupla e imensa crise nós precisamos coragem, firmeza e espírito público. Precisamos de espírito público para agir em função do interesse da sociedade e não do interesse individual. Precisamos ser republicanos, defender as virtudes cívicas. E, nesta hora, as duas virtudes cívicas maiores são a coragem e a firmeza. Não está na hora de deixar para depois, de empurrar com a barriga, de titubear, de se encolher. Precisamos de firmeza para tomar todas as decisões necessárias e para executá-las. 

A execução também é importante. E nós temos servidores públicos competentes para executar as políticas públicas emergenciais. Hoje, no Valor, tive o prazer de ler o artigo de Letícia Bartholo, Luiz Henrique Paiva e Pedro Ferreira de Souza, "O desafio de implantar o auxílio emergencial para os informais". São três sociólogos do IPEA que mostraram pleno conhecimento das ações que precisam ser tomadas para disponibilizar os R$ 600,00 para, no cálculo que fizeram, 117,5 milhões de pessoas - 55% da população brasileira.